segunda-feira, 14 de setembro de 2015

O último tiro

O "último tiro" tem sido uma chamada de alerta nas minhas mais recentes palestras em que trato da violência, da morte da nossa juventude e das perguntas sem respostas que cada óbito nos impõe.
Falo do último tiro, aquele disparado e que sai da arma que mata, que sai nos jornais, que é a bala que carimba os corpos dos nossos jovens para o reconhecimento no necrotério, no Instituto Médico Legal. Estou me referindo aos jovens que têm a esperança  arrancada pela violência que se torna mais cotidiana a alimentar os frios e espetaculares noticiários. Afinal, esses jovens são mais ou menos tratados após a morte,  como são mais ou menos tratados antes dela.
Quando falo do último tiro, é porque entendo que outros são disparados. Aqui vai um tiro, por exemplo:  a minha primeira escola pública onde fiz o curso primário, na rua Lima e Silva, no bairro da Liberdade, está mais desinteressante hoje do que há quarenta e poucos anos atrás, nem mesmo as árvores estão lá, o pátio onde cantávamos o Hino e brincávamos no recreio, continua o mesmo, num mundo que mudou tanto, que saiu do orelhão de ficha para os sofisticados smartphones, para uma geração que dispensa o meu TV Colorado RQ, pois está assistindo numa LED. Esse tiro também mata.
Para essa juventude, a falta de boas escolas, a inexistência de quadra de esportes, a carência por teatros e cinemas no  próprio bairro, são tiros iniciais dessa guerra sem fim, onde a gente sabe quem morre no final.
Nesse cenário da barbárie naturalizada, onde a classe média-alta sabe que seus filhos não estarão na lista de corpos a serem identificados, vejo com a esperança renovada de quem estudou na escola pública, o chamamento do Programa Educar para Transformar - Um pacto pela educação, do governador Rui Costa, que pretende investir na educação pública e no incentivo dos nossos jovens para terem na escola a referência de triunfo contra a desesperança.
Vamos apoiar e divulgar a defesa e melhoria da escola pública. Marca ponto quem constrói salas de aula em lugar de celas.
Assim, reduzindo os primeiros tiros de indiferença e maltratos, certamente, não ouviremos o estampido do último tiro, que hipocritamente atordoa a tantas pessoas que vendem e compram TV,s de LED.
Ailton Ferreira, sociólogo
ailtonferreira8@gmail.com

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